sexta-feira, 6 de abril de 2012

1.Propriá nos seus albores

          Nos domínios do chefe indígena"Pacatuba",que tendo ao leste as águas maravilhosas do Atlântico e ao Norte as do São Francisco,entestavam ao sul com as terras do cacique"Japaratuba" e, dalí se extendiam,rio acima,rumo ao poente,encravados se achavam os terrenos ubertosos onde altaneira e florescente,hoje se alevanta a cidade de Propriá,quando,aos 9 de abril de 1590,passaram a constituir parte integrante da sesmaria doada ao seu próprio filho,Antônio Cardoso de Barros,pelo conquistador de Sergipe,Cristóvam de Barros.
         Anos mais tarde,nos fins da primeira metade do século XVII,D.Guiomar de Melo viuva de Antônio Cardoso de Barros Lima,fez ao marido de sua filha Mariana,então já falecida,Pedro de Abreu de Lima,juntamente com a de outros da mesma sesmaria,doação daqueles terrenos,que se denominavam do "Urubu" e, em dezembro de 1646,alcandoraram-se nos fastos da história-pátria,como teatro da ruidosa derrota infligida pelos nossos bravos Independentes,sob o camando do denodado capitão Francisco Rabelo,aos bravos invasores flamengos,chefiados pleo capitão gaulês Samuel Lambert,o célebre "La Montagne";derrota que pòs fim à guerra holandesa em  terras de Sergipe,acarretando desastrosas consequências para os bátavos,que,além da pêrda de mais de uma centena de soldados e oficiais outros, tiveram de lamentar o aprisionamento do experimentado capitão Gisseling e a morte do almirante Licthard,que,mêses antes, vencêra,em Tamandaré.a frota portuguêsa,dirigida por Jerônimo Serrão de Paiva.
        Uma vez na posse da dádiva que,reconhecendo seu direito à herança de d.Mariana de Melo,lhe fizera a sogra,Abreu de Lima alienou as terras do Jaguaribe aos Jesuítas,que delas tomaram conta em 18 de novembro de 1650,vendeu aos Carmelitas,em 30 de abril  de 1652,as da visinhança do rio Poxim,doou as do Curral-Falso ao seu filho,Alferes Francisco da Silva Abreu,e, por escritura pública de 30 de setembro de 1678,ratificada no ano imediato,através de instrumento semelhante,vinculou as do sítio em que residia no  Encapelado de Santo Antônio do Urubu de baixo,que, consoante a própria escritura de instituição,se dividia"com o sítio do Saco, com o dos Olhos d'Água e com o Riacho Propriá, e pelo Curral-Falso,antes de chegar à primeira várzea,junto ao dito lugar,e confinando,pelo lado da Canafístula,com as terras que foram dos Padres da Companhia,compreendendo todas as caatingas,pastos e logradouros,bem como a ilha da Fomozinha".
        Ainda por disposição expressa da mesma escritura, a administração,uso e gôzo do Encapelado,a trôco de determinadas obrigações e, entre estas,a de mandar celebrar missas por alma do Instituidor de sua mulher,competeriam ao filho mais velho do mesmo  e aos primogênitos dos seus sucessores, excluindo-se as fêmeas,na hipótese de existir filho varão.
        Em tais condições,foi o primeiro administrador do vínculo o Padre João Gomes de Abreu,que,morrendo sem descendência,teve por substituta a sua irmã Catarina de Sena,mulher de d.Pero de Sousa; a ela sucedeu sua filha Maria Rosa,casada com Antônio Quitério,cuja filha e sucessora,a segunda Catarina de Sena,após a morte de seu marido Francisco Chaves,contraiu novas nupcias com o capitão Luiz Teles de Andrade,de quem houve José Joaquim de Sousa.
        Justamente,na qualidade de tutuor dêste seu filho,que apenas contava dezoito anos de idade,estava o capitão Luiz Teles de Andrade administrando o Morgado,quando se realizaram as solenidades de da instalação da Vila,cujo sesquicentenário,agora celebrado,motivou  a organização e publicação do presente"Album",fruto dos esfórços inauditos e da melhor boa vontade de Octávio Menezes.
       Graças,não há dúvida,à sua privilegiada situação às margens de um grande rio e nas proximidades de várzeas férteis e piscosas,a povoação de Urubu,tornando-se a Meca da região,alcançou tão rápido desenvolvimento que logo em 18 de outubro de 1718,o nosso Arcebispo Primaz,D.Sebastião Monteiro da Vide,desmembrando-a da de Vila-Nova do São Francisco e a erigiu em paróquia ,sob a designação de Freguesia de Santo Antônio do Urubú de Baixo,cujo território,já em 1º de agosto de 1800,era habitada por mais de 4 mil almas e abrangia 875 fogos,conforme mencionava a Representação,que,por intermédio do doutor Antônio Pereira de Magalhães e Paços,Ouvidor Geral e corregedor da Comarca de Sergipe d'El Rei,dirigiram  seus moderadores ao Capitão-General e Governador do Estado do Brasil D. Fernando José de Portugal,encarecendo-lhe a necessidade de ser a povoação elevada à vila,no interesse do bem comum,do Serviço de Sua Alteza Real e da melhor administração da Justiça,porque aos  titulares desta em Vila Nova impossível era assegurarem,de tão distante,o socêgo da localidade, "infestada de vadios e facinorosos,que desciam dos Certões e das partes de Pernambuco a cometerem desordens e assassínios".
       Louvando nas boas razões nela aduzidas,D.Fernando houve por bem atender a representação em causa,e,por carta assinada na Bahia em 5 de setembro de 1801,ordenou,em nome do Príncepe Regente,D.João,ao Ouvidor supra-nomeado,que fizesse erigir em vila a sôbredita povoação,procedendo a todos os atos e solenidades  praticadas em semelhantes creações mandando edificar a casa da Cadeia e Câmara à custa dos moradores e dando lhe por distrito o território da Freguesia,que tinha como limites ao Norte o rio de São Francisco,ao Sul a divisão do Japaratuba do têrmo de Santo Amaro das Brotas,ao Nascente a Vila-Nova e ao Poente o dilatado geral do Sertão, a partir do distrito de Jacobina.
       O doutor Mafalhães e Paços,que trabalhava grandemente em favor dos propriaenses,apressou-se no cumprir a órdem recebida e,designando a sua execução para o domingo 7 de fevereiro de 1802,convocou para assistirem-na,mediante edital de 31 do mês anterior,afixado na porta da Casa do Tronco e publicado em altas vozes pelo escrivão da vintena servindo de porteiro,Manoel José da Silveira Sembléa,todos os fidalgos,homens bons pessoas condecoradas com emprêgos militares o sem êles,e. bem assim,todos os Repúblicos e habitantes da Freguezia.
       Efetivamente,na manhã estival daquele sete, no alto da Praça,em o lugar ond se cruzavam "as ruas marcadas para fazer passagem de uma lagoa para  outra",na presença de numerosas pessoas da Nobreza,Clero e Povo militares e civís,"em Congresso e boa união,o presidente da cerimônia,doutor Antônio Pereira de Magalhães e Paços,ordenou que, no mesmo local,se erguesse um pelourinho de pau redondo,com uma bola circular no alto,que sendo a insígnia da autonomia municipal,deveria,mais tarde,ser substituído por outro de Pedra e boa fórma de construção,e mandou que se apregoasse ficar,desde então, em obediência ao Príncipe,à Rainha,D.Maria I, e aos  mais senhores Reis de Portugal,elevada a povoacão à Vila,co o nome de Propriá,devendo,assim, toda a gente de qualquer graduação ou sexo,reconhecêr cabeça principal do Têrmo,"com o distrito e território indicado e confrontado na Mercê de creação e ereção".
      Tais pregões se fizeram em altas vozes pelo Porteiro,ao som de caixa,de outros instrumentos e de salvas de tiros,lavrando-se,de tudo,o competente auto pelo Escrivão ajudante e da Correição,interino,Domingos Gonçalves Morim.
      Na tarde dêsse mesmo dia de domingo,ainda sob a presidência do Dr.Magalhães de Paços e ante numerosa massa popular e pessoas gradas,procedeu-se à abertura da" Caixinha dos Pilouros" ,onde havia uma bolsa encarnada,de cujo interior foi,pelo menino Manoel,retirada uma bola de cêra.Esta,quebrou-a,ostensivamente,o vereador mais velho da Câmara de Vila-Nova,Antônio Alves Pereira,que,então,exibiu o bilhete nela contido e abaixo transcrito:
                                                                   "BILHETE-Pilouro da Justiças- que hão de Servir na
                                                               Governanfa da Villa de Propriá novamente creada:JUIZ DE
                                                               ORPHAONS-Raymundo Marques de Britto.JUIZES ORDI-
                                                               NARIOS-Miguel Gonçalves Lima,o Alferes Ignácio José Pe-
                                                               reira Dantas.    VERIADORES-Manoel Caitano Bizerra,Felipe
                                                               Rolim de Moura,o Alferes Antônio Roiz da Costa.   PROCU-
                                                               RADOR-José Antônio Cabral.Propriá,7 de fevereiro de 1802.
                                                               O Ouvidor da Comarca-Antônio Pereira de Magalhães e Paços.
Áto contínuo,o mesmo porteiro"ad hoc" já anteriormente nomeado,Manoel José da Silveira Sembléa,apregoou,para conhecimento geral,os nomes dos sete cidadãos,que,assim,vinham de ser escolhidos primeiros titulares da alta administração do novel Município;cinco dos quais(Marques de Brito,Pereira Dantas,Caitano Bezerra,Rolim de Moura e Rodrigues da Costa,presentes se achando e atendendo à notificação alí mesmo recebida,tiraram as necessárias Cartas e imediatamente se empossaram nos respectivos cargos,perante o Doutor Ouvidor,que lhes defiriu,sôbre os Santos Evangelhos,o juramento de estilo e mandou passar aviso aos dois ausentes(Gonçalves Lima e José Antônio Cabral) para,em tempo oportuno e sob pena de prisão,também cuidarem de assumir suas ditas funções.
     Prestado o quinto e último compromisso,o Dr.Magalhães de Paços,dando por aberto o "Pilouro" e publicados os nomes dos novos dignatários locais,dirigiu-se,de todos acompanhado,à igreja da Paróquia,onde, servindo de oficiante o Revmo.Vigário da Freguezia,Padre Alexandre Morato de Albuquerque,se fez ouvir,em ação de graças pela instalação da Vila,soleníssimo"Te Deo Laudamus",encerrado,segundo o costume da época,com repiques de sino,vivas à Raínha e ao Príncipe,toque de caixas e tambor nutrida mosquetaria,no que muito se sobressair,pelo brilhantismo e disciplina,uma tropa de soldados índios da Missão de Nossa Senhora da Conceição do Porto Real,Distrito de Pernambuco,que sob o comando do sargento-mór viéra participar dos festejos,por obsequioso e expontâneo oferecimento do capitão mór Leonardo Gomes Pinheiro,então bastante doente.
     Ao "Te Deo" seguiu-se a despedida dos nobres visitantes neopolitanos entre os quais se distinguiam o almotacel Manoel Antônio dos Santos Lira os três vereadores Antônio Alves Pereira,morador na Várzea Nova,Manoel Pereira Dantas,do Sítio Saúde e João Francisco da Costa,de Jaguaripe que tiveram a gentileza do seu comparecimento,seguro penhor de amizade,boa vizinhança,aplaudida pelo Doutor Ouvidor e retribuída pelos seus colegas da Câmara de Propriá,recem -erecta,que num inequívoco testemunho de idênticos sentimentos e gratidão,lhes proporcionaram concorrido bota-foras com o que se deu remate,naquêle dia, à série dos atos festivos e regimentais da instalação da Vila,todos êles,consoante reza documento contemporâneo,elevados a efeito"em paz e quietação,na presença das figuras mais representativas da localidade e da região sanfanciscana,sobrelevando-se pela indiscutível proeminência,além dos cidadãos retro-mencionados,os irmãos do Fidalgo Cavalheiro da Casa Real e Morgado de Porto da Folha,Antônio Gomes Ferrão CastelBranco,snrs Revmo.Padre Pedro Gomes Ferrão Castel Branco ,Salvador Gomes Ferrão Castel Branco,morador da fazenda"Caiçara"João Jacinto Gomes Ferrão Castel Branco,residente nas "Intans",e Pedro José  Castel Branco,todos Fidalgos Cavalheiros,o capitão João Machado Novais,comandante das quatro companhias do Sertão e morador na Alagoa Nova,o Padre Coadjutor Antônio Correia de Figueredo,natural da Fregueszia de Pé do Banco,e os negociantes Joaquim Pereira Ávila,Francisco de Oliveira,José Pereira de Melo,Antônio José Ferreira,Francisco Teles de Barros,Francisco José de Sousa,Miguel da Costa Nunes,Manoel dos Reis Freire,João Coelho Barbosa,Antônio Pereira de Araújo.
       No dia imediato(8 de fevereiro),em audiência especial,na Casa de sua aposentadoria,na Vila atendendo ao que prometêra na véspera aos Juízes Ordinários e Vereadores e continuando a execução das órdens expedidas pelo Governador e Capitão General do Estado do Brasil,D.Fernando José de Portugal,então recem-promovido a Vice - Rei, o Doutor Ouvidor Magalhães e Paços,em nome de S.A.Real,com sujeição e obediência ao mesmo tempo à Rainha e seus sucessores,creou os diversos cargos previstos na legislação vigente e necessários ao expediente da Justiça  e boa administração do bem público,a saber: a)- um primeiro e um segundo tabelionato de notas acumulados com a escrivania do geral,crime e civel,unida a êste a serventia de escrivão da Câmara e almotaçaria do geral,e àquele a de escrivão dos órfãos(o cargo de Juiz Almocatel foi abolido de todo o País por decreto de 26 de agosto de 1830);b)-um de Alcaíde,ser promovido trienalmente;c)-um de Carcereiro;d)-um de Porteiro;e)-um de ofício de Destribuidor,Inquiridor,contador do Geral,unido ao de Chaveiro e Guarda da Câmara;f)-um de Meirinho e respectivo Escrivão;g)-dois de Partidor e um de Curador Geral de Órfãos;h)-dois de Avaliadores do Conselho.
     Também ordenou se edificasse a Casa da Cadeia e creou,ainda,duas Vintenas,com seu juiz,escrivão e quadrilheiros;uma para o Sertão e outra para Japaratuba,a serem estabelecidas e situadas nas paragens mais propícias às suas finalidades.
      O dia 9 de fevereiro,consagrou o  Ouvidor e Corregedor Geral à audiência pública levada a efeito em a mesma casa de sua aposentadoria,com o fim precipuo de declarar os limites do novo têrmo da Vila de Propriá, que ex- vi do ato de sua criação,como já ficou de início elucidado,deveriam coincidir com os atribuidos à frequezia de Santo Antônio do Urubú,ao ser esta erecta,no ano de 1718,quando,sob o reinado de D.João V,eram Governador do Brasil, O Conde de Vimieiro(D.Sancho de Faro),Capitão-mór de Sergipe,Antônio Rabelo Pereira, e Ouvidor da Comarca,o dr.José Correia do Amaral.
      Então,proporcionando a todos os interessados e mui especialmente,com manifetas vantagens para a administração,às câmaras e aos Juízes,ensanchas para melhor conhecerem a área territorial da Comuna,o dr.Magalhães de Paços,abeberado nas precisas informações do Padre Morato,Vigário encomendado da Paróquia,e de pessoas outras,por igual instruídas sôbre a região,deixou assinaladas as nossas divisas com o têrmo da antiga Vila-Nova,hoje Neópolis,no lado oriental,descrevendo-se detalhadamente,dêsde o comêço,no local onde confluem o riacho "Pindoba" e o rio de "São Francisco",até ao seu término,em o sítio denominado "Pão de Açúcar",junto ao Japaratuba-mirim,as com têrmo em Santo Amaro das Brotas,que,parindo do aludido sítio,iam ter ao Japaratuba-grande e por êste se prolongavam,fazendo-o destarte em parte,linha fronteiriça do nosso extremo meridional:as do Norte,que,separando-nos do Atual Estado de Alagôas,acompanhavam,em todo o seu percurso e numa extensão maior de  quarenta léguas,o talvegue do São Francisco,da foz do "Pindoba" a do riacho "Xingó",na fronteira do distrito de Pambú,logo acima dos Brejos das Bananeiras e a curta distância de Paulo Afonso.
       Quanto as divisas ocidentais,sem dúvida por se tratar de zona ainda mal palmilhada,silenciou-lhe,êle a trajetória,restringindo a menção de que,naquelas bandas,nos limigava-mos"com Gerimoabo,Jacobina,Itabaiana e com qm mais dto for plas ptes do Certão e do Poente"
      A dez do mesmo mês (fevereiro),o Cap.Luiz Luiz Felix de Andrande,administrador,e o seu filho,ainda sobre o pátrio poder,José Joaquim de Souza,legitimo possuidor,por herança materna,do encapelado de Santo Antônio,foram recebidos pelo Doutor Ouvidor Geral e Corregedor,a quem participaram que,já tendo,mediante convenção feita no livro das contas da Capela e,de certo modo,em recompensa das "utilidades" resultantes da creação da Vila



                                                                           

Nenhum comentário:

Postar um comentário