APRESENTAÇÃO
Propriá!
Não foi sem grande esforço que conseguimos a confecção desta obra, numa oficina gráfica local, onde falecem os recursos para tanto.Todavia,vencendo mil dificuldades, lográmos cumprir o que prometeramos.
Portanto,Propriá,aí está o teu cartão de visita - o ALBUM FOTOGRÁFICO E COMERCIAL - nossa modesta colaboração nas solenidades comemorativas do sesquicentenário da tua emancipação política.
*********************
Contámos com o apoio do comércio que ao diante vai representando; com o auxílio da Câmara de Vereadores,votando a verba de Cr.S 5000,00, sancionada pelo Exmo. Sr. Prefeito Municipal com a boa vontade dos srs. Agnelo de Vasconcelos Torres, Dr.Xavier Montes e José Brito Gonçalves, facilitando-nos a aquisição do material que nos faltava; com a colaboração espontânea do Dr. João Fernandes de Britto na parte histórica, e com a cooperação dedicada e grandiosa do sr. Aristóteles Gomes na parte comercial, aos quais hipotecamos os nossos sinceros agradecimentos.
Propriá, Fev. 1952
OCTÁVIO MENEZES
Nos domínios do chefe
indígena"Pacatuba",que tendo ao leste as águas maravilhosas do
Atlântico e ao Norte as do São Francisco,entestavam ao sul com as terras do
cacique"Japaratuba" e, dalí se extendiam,rio acima,rumo ao
poente,encravados se achavam os terrenos ubertosos onde altaneira e
florescente,hoje se alevanta a cidade de Propriá,quando,aos 9 de abril de
1590,passaram a constituir parte integrante da sesmaria doada ao seu próprio filho,Antônio
Cardoso de Barros,pelo conquistador de Sergipe,Cristóvam de Barros.
Anos mais tarde,nos fins da primeira metade do século XVII,D.Guiomar de Melo
viuva de Antônio Cardoso de Barros Lima,fez ao marido de sua filha
Mariana,então já falecida,Pedro de Abreu de Lima,juntamente com a de outros da
mesma sesmaria,doação daqueles terrenos,que se denominavam do "Urubu"
e, em dezembro de 1646,alcandoraram-se nos fastos da história-pátria,como
teatro da ruidosa derrota infligida pelos nossos bravos Independentes,sob o
camando do denodado capitão Francisco Rabelo,aos bravos invasores
flamengos,chefiados pleo capitão gaulês Samuel Lambert,o célebre "La
Montagne";derrota que pòs fim à guerra holandesa em terras de
Sergipe,acarretando desastrosas consequências para os bátavos,que,além da pêrda
de mais de uma centena de soldados e oficiais outros, tiveram de lamentar o
aprisionamento do experimentado capitão Gisseling e a morte do almirante
Licthard,que,mêses antes, vencêra,em Tamandaré.a frota portuguêsa,dirigida por
Jerônimo Serrão de Paiva.
Uma vez na posse da dádiva que,reconhecendo seu direito à herança de d.Mariana
de Melo,lhe fizera a sogra,Abreu de Lima alienou as terras do Jaguaribe aos
Jesuítas,que delas tomaram conta em 18 de novembro de 1650,vendeu aos Carmelitas,em
30 de abril de 1652,as da visinhança do rio Poxim,doou as do Curral-Falso ao
seu filho,Alferes Francisco da Silva Abreu,e, por escritura pública de 30 de
setembro de 1678,ratificada no ano imediato,através de instrumento
semelhante,vinculou as do sítio em que residia no Encapelado de Santo Antônio
do Urubu de baixo,que, consoante a própria escritura de instituição,se
dividia"com o sítio do Saco, com o dos Olhos d'Água e com o Riacho
Propriá, e pelo Curral-Falso,antes de chegar à primeira várzea,junto ao dito
lugar,e confinando,pelo lado da Canafístula,com as terras que foram dos Padres
da Companhia,compreendendo todas as caatingas,pastos e logradouros,bem como a
ilha da Fomozinha".
Ainda por disposição expressa da mesma escritura, a administração,uso e gôzo do
Encapelado,a trôco de determinadas obrigações e, entre estas,a de mandar
celebrar missas por alma do Instituidor de sua mulher,competeriam ao filho mais
velho do mesmo e aos primogênitos dos seus sucessores, excluindo-se as
fêmeas,na hipótese de existir filho varão.
Em tais condições,foi o primeiro administrador do vínculo o Padre João Gomes de
Abreu,que,morrendo sem descendência,teve por substituta a sua irmã Catarina de
Sena,mulher de d.Pero de Sousa; a ela sucedeu sua filha Maria Rosa,casada com
Antônio Quitério,cuja filha e sucessora,a segunda Catarina de Sena,após a morte
de seu marido Francisco Chaves,contraiu novas nupcias com o capitão Luiz Teles
de Andrade,de quem houve José Joaquim de Sousa.
Justamente,na qualidade de tutuor dêste seu filho,que apenas contava dezoito
anos de idade,estava o capitão Luiz Teles de Andrade administrando o
Morgado,quando se realizaram as solenidades de da instalação da Vila,cujo
sesquicentenário,agora celebrado,motivou a organização e publicação do presente"Album",fruto
dos esfórços inauditos e da melhor boa vontade de Octávio Menezes.
Graças,não há dúvida,à sua privilegiada situação às margens de um grande rio e
nas proximidades de várzeas férteis e piscosas,a povoação de Urubu,tornando-se
a Meca da região,alcançou tão rápido desenvolvimento que logo em 18 de outubro
de 1718,o nosso Arcebispo Primaz,D.Sebastião Monteiro da Vide,desmembrando-a da
de Vila-Nova do São Francisco e a erigiu em paróquia ,sob a designação de
Freguesia de Santo Antônio do Urubú de Baixo,cujo território,já em 1º de agosto
de 1800,era habitada por mais de 4 mil almas e abrangia 875 fogos,conforme
mencionava a Representação,que,por intermédio do doutor Antônio Pereira de
Magalhães e Paços,Ouvidor Geral e corregedor da Comarca de Sergipe d'El
Rei,dirigiram seus moderadores ao Capitão-General e Governador do Estado do
Brasil D. Fernando José de Portugal,encarecendo-lhe a necessidade de ser a
povoação elevada à vila,no interesse do bem comum,do Serviço de Sua Alteza Real
e da melhor administração da Justiça,porque aos titulares desta em Vila Nova
impossível era assegurarem,de tão distante,o socêgo da localidade,
"infestada de vadios e facinorosos,que desciam dos Certões e das partes de
Pernambuco a cometerem desordens e assassínios".
Louvando nas boas razões nela aduzidas,D.Fernando houve por bem atender a
representação em causa,e,por carta assinada na Bahia em 5 de setembro de
1801,ordenou,em nome do Príncepe Regente,D.João,ao Ouvidor supra-nomeado,que
fizesse erigir em vila a sôbredita povoação,procedendo a todos os atos e
solenidades praticadas em semelhantes creações mandando edificar a casa da
Cadeia e Câmara à custa dos moradores e dando lhe por distrito o território da
Freguesia,que tinha como limites ao Norte o rio de São Francisco,ao Sul a
divisão do Japaratuba do têrmo de Santo Amaro das Brotas,ao Nascente a
Vila-Nova e ao Poente o dilatado geral do Sertão, a partir do distrito de
Jacobina.
O doutor Mafalhães e Paços,que trabalhava grandemente em favor dos
propriaenses,apressou-se no cumprir a órdem recebida e,designando a sua
execução para o domingo 7 de fevereiro de 1802,convocou para
assistirem-na,mediante edital de 31 do mês anterior,afixado na porta da Casa do
Tronco e publicado em altas vozes pelo escrivão da vintena servindo de
porteiro,Manoel José da Silveira Sembléa,todos os fidalgos,homens bons pessoas
condecoradas com emprêgos militares o sem êles,e. bem assim,todos os Repúblicos
e habitantes da Freguezia.
Efetivamente,na manhã estival daquele sete, no alto da Praça,em o lugar ond se
cruzavam "as ruas marcadas para fazer passagem de uma lagoa para
outra",na presença de numerosas pessoas da Nobreza,Clero e Povo militares
e civís,"em Congresso e boa união,o presidente da cerimônia,doutor Antônio
Pereira de Magalhães e Paços,ordenou que, no mesmo local,se erguesse um
pelourinho de pau redondo,com uma bola circular no alto,que sendo a insígnia da
autonomia municipal,deveria,mais tarde,ser substituído por outro de Pedra e boa
fórma de construção,e mandou que se apregoasse ficar,desde então, em obediência
ao Príncipe,à Rainha,D.Maria I, e aos mais senhores Reis de Portugal,elevada a
povoacão à Vila,co o nome de Propriá,devendo,assim, toda a gente de qualquer
graduação ou sexo,reconhecêr cabeça principal do Têrmo,"com o distrito e
território indicado e confrontado na Mercê de creação e ereção".
Tais pregões se fizeram em altas vozes pelo Porteiro,ao som de caixa,de outros
instrumentos e de salvas de tiros,lavrando-se,de tudo,o competente auto pelo
Escrivão ajudante e da Correição,interino,Domingos Gonçalves Morim.
Na tarde dêsse mesmo dia de domingo,ainda sob a presidência do Dr.Magalhães de
Paços e ante numerosa massa popular e pessoas gradas,procedeu-se à abertura
da" Caixinha dos Pilouros" ,onde havia uma bolsa encarnada,de cujo
interior foi,pelo menino Manoel,retirada uma bola de
cêra.Esta,quebrou-a,ostensivamente,o vereador mais velho da Câmara de
Vila-Nova,Antônio Alves Pereira,que,então,exibiu o bilhete nela contido e
abaixo transcrito:
"BILHETE-Pilouro da Justiças- que hão de Servir na
Governanfa da Villa de Propriá novamente creada:JUIZ DE
ORPHAONS-Raymundo Marques de Britto.JUIZES ORDI-
NARIOS-Miguel Gonçalves Lima,o Alferes Ignácio José Pe-
reira Dantas. VERIADORES-Manoel Caitano Bizerra,Felipe
Rolim de Moura,o Alferes Antônio Roiz da Costa. PROCU-
RADOR-José Antônio Cabral.Propriá,7 de fevereiro de 1802.
O Ouvidor da Comarca-Antônio Pereira de Magalhães e Paços.
Áto contínuo,o mesmo porteiro"ad hoc" já anteriormente nomeado,Manoel
José da Silveira Sembléa,apregoou,para conhecimento geral,os nomes dos sete
cidadãos,que,assim,vinham de ser escolhidos primeiros titulares da alta
administração do novel Município;cinco dos quais(Marques de Brito,Pereira
Dantas,Caitano Bezerra,Rolim de Moura e Rodrigues da Costa,presentes se achando
e atendendo à notificação alí mesmo recebida,tiraram as necessárias Cartas e
imediatamente se empossaram nos respectivos cargos,perante o Doutor Ouvidor,que
lhes defiriu,sôbre os Santos Evangelhos,o juramento de estilo e mandou passar
aviso aos dois ausentes(Gonçalves Lima e José Antônio Cabral) para,em tempo
oportuno e sob pena de prisão,também cuidarem de assumir suas ditas funções.
Prestado o quinto e último compromisso,o Dr.Magalhães de Paços,dando por aberto
o "Pilouro" e publicados os nomes dos novos dignatários
locais,dirigiu-se,de todos acompanhado,à igreja da Paróquia,onde, servindo de
oficiante o Revmo.Vigário da Freguezia,Padre Alexandre Morato de Albuquerque,se
fez ouvir,em ação de graças pela instalação da Vila,soleníssimo"Te Deo
Laudamus",encerrado,segundo o costume da época,com repiques de sino,vivas
à Raínha e ao Príncipe,toque de caixas e tambor nutrida mosquetaria,no que
muito se sobressair,pelo brilhantismo e disciplina,uma tropa de soldados índios
da Missão de Nossa Senhora da Conceição do Porto Real,Distrito de
Pernambuco,que sob o comando do sargento-mór viéra participar dos festejos,por
obsequioso e expontâneo oferecimento do capitão mór Leonardo Gomes
Pinheiro,então bastante doente.
Ao "Te Deo" seguiu-se a despedida dos nobres visitantes neopolitanos
entre os quais se distinguiam o almotacel Manoel Antônio dos Santos Lira os
três vereadores Antônio Alves Pereira,morador na Várzea Nova,Manoel Pereira
Dantas,do Sítio Saúde e João Francisco da Costa,de Jaguaripe que tiveram a
gentileza do seu comparecimento,seguro penhor de amizade,boa
vizinhança,aplaudida pelo Doutor Ouvidor e retribuída pelos seus colegas da
Câmara de Propriá,recem -erecta,que num inequívoco testemunho de idênticos
sentimentos e gratidão,lhes proporcionaram concorrido bota-foras com o que se
deu remate,naquêle dia, à série dos atos festivos e regimentais da instalação
da Vila,todos êles,consoante reza documento contemporâneo,elevados a
efeito"em paz e quietação,na presença das figuras mais representativas da
localidade e da região sanfanciscana,sobrelevando-se pela indiscutível
proeminência,além dos cidadãos retro-mencionados,os irmãos do Fidalgo
Cavalheiro da Casa Real e Morgado de Porto da Folha,Antônio Gomes Ferrão
CastelBranco,snrs Revmo.Padre Pedro Gomes Ferrão Castel Branco ,Salvador Gomes
Ferrão Castel Branco,morador da fazenda"Caiçara"João Jacinto Gomes
Ferrão Castel Branco,residente nas "Intans",e Pedro José Castel
Branco,todos Fidalgos Cavalheiros,o capitão João Machado Novais,comandante das
quatro companhias do Sertão e morador na Alagoa Nova,o Padre Coadjutor Antônio
Correia de Figueredo,natural da Fregueszia de Pé do Banco,e os negociantes
Joaquim Pereira Ávila,Francisco de Oliveira,José Pereira de Melo,Antônio José
Ferreira,Francisco Teles de Barros,Francisco José de Sousa,Miguel da Costa
Nunes,Manoel dos Reis Freire,João Coelho Barbosa,Antônio Pereira de Araújo.
No dia imediato(8 de fevereiro),em audiência especial,na Casa de sua
aposentadoria,na Vila atendendo ao que prometêra na véspera aos Juízes
Ordinários e Vereadores e continuando a execução das órdens expedidas pelo
Governador e Capitão General do Estado do Brasil,D.Fernando José de
Portugal,então recem-promovido a Vice - Rei, o Doutor Ouvidor Magalhães e
Paços,em nome de S.A.Real,com sujeição e obediência ao mesmo tempo à Rainha e
seus sucessores,creou os diversos cargos previstos na legislação vigente e
necessários ao expediente da Justiça e boa administração do bem público,a
saber: a)- um primeiro e um segundo tabelionato de notas acumulados com a
escrivania do geral,crime e civel,unida a êste a serventia de escrivão da
Câmara e almotaçaria do geral,e àquele a de escrivão dos órfãos(o cargo de Juiz
Almocatel foi abolido de todo o País por decreto de 26 de agosto de 1830);b)-um
de Alcaíde,ser promovido trienalmente;c)-um de Carcereiro;d)-um de
Porteiro;e)-um de ofício de Destribuidor,Inquiridor,contador do Geral,unido ao
de Chaveiro e Guarda da Câmara;f)-um de Meirinho e respectivo Escrivão;g)-dois
de Partidor e um de Curador Geral de Órfãos;h)-dois de Avaliadores do Conselho.
Também ordenou se edificasse a Casa da Cadeia e creou,ainda,duas Vintenas,com
seu juiz,escrivão e quadrilheiros;uma para o Sertão e outra para Japaratuba,a
serem estabelecidas e situadas nas paragens mais propícias às suas finalidades.
O dia 9 de fevereiro,consagrou o Ouvidor e Corregedor Geral à audiência pública
levada a efeito em a mesma casa de sua aposentadoria,com o fim precipuo de
declarar os limites do novo têrmo da Vila de Propriá, que ex- vi do ato de sua
criação,como já ficou de início elucidado,deveriam coincidir com os atribuidos
à frequezia de Santo Antônio do Urubú,ao ser esta erecta,no ano de
1718,quando,sob o reinado de D.João V,eram Governador do Brasil, O Conde de
Vimieiro(D.Sancho de Faro),Capitão-mór de Sergipe,Antônio Rabelo Pereira, e
Ouvidor da Comarca,o dr.José Correia do Amaral.
Então,proporcionando a todos os interessados e mui especialmente,com manifetas
vantagens para a administração,às câmaras e aos Juízes,ensanchas para melhor
conhecerem a área territorial da Comuna,o dr.Magalhães de Paços,abeberado nas
precisas informações do Padre Morato,Vigário encomendado da Paróquia,e de
pessoas outras,por igual instruídas sôbre a região,deixou assinaladas as nossas
divisas com o têrmo da antiga Vila-Nova,hoje Neópolis,no lado
oriental,descrevendo-se detalhadamente,dêsde o comêço,no local onde confluem o
riacho "Pindoba" e o rio de "São Francisco",até ao seu
término,em o sítio denominado "Pão de Açúcar",junto ao
Japaratuba-mirim,as com têrmo em Santo Amaro das Brotas,que,partido do aludido
sítio,iam ter ao Japaratuba-grande e por êste se prolongavam,fazendo-o destarte
em parte,linha fronteiriça do nosso extremo meridional:as do
Norte,que,separando-nos do Atual Estado de Alagôas,acompanhavam,em todo o seu
percurso e numa extensão maior de quarenta léguas,o talvegue do São
Francisco,da foz do "Pindoba" a do riacho "Xingó",na
fronteira do distrito de Pambú,logo acima dos Brejos das Bananeiras e a curta
distância de Paulo Afonso.
Quanto as divisas ocidentais,sem dúvida por se tratar de zona ainda mal
palmilhada,silenciou-lhe,êle a trajetória,restringindo a menção de que,naquelas
bandas,nos limigava-mos"com Gerimoabo,Jacobina,Itabaiana e com qm mais dto
for plas ptes do Certão e do Poente"
A dez do mesmo mês (fevereiro),o Cap.Luiz Luiz Felix de
Andrande,administrador,e o seu filho,ainda sobre o pátrio poder,José Joaquim de
Souza,legitimo possuidor,por herança materna,do encapelado de Santo
Antônio,foram recebidos pelo Doutor Ouvidor Geral e Corregedor,a quem
participaram que,já tendo,mediante convenção feita no livro das contas da
Capela e,de certo modo,em recompensa das "utilidades" resultantes da
creação da Vila em bem dos proprietários do dito Encapelado,concedido nas terras dêste,onde ela se erguia,duzentas e cinquenta braças em quadro para a edificação de casas e quintais, inclusive as da Cadeia e da Câmara,naquele ensejo,animados ambos do propósito de concorrerem para o fácil aumento da mesma Vila e esperando ser êsse concurso reconhecido no futuro,também cediam e doavam aso moradores da localidade e aso seus visitantes e o direito de usufruírem gratuitamente (estes últimos para descanço e pastagem de suas boiadas e de seus animais de tração ou carga. e aqueles para o criatório exclusivo de caprinos,lanigeros ou animais cavalares de seu trato) a porção do terreno adjacente,delimitada pou um trilho que,principiando na tapagem do riacho "Propriá" e Alagoa Nova,deveria seguir sempre em reta na direção do Nascente e, fazendo frente por cima do Bongue,torcer o rumo em volta da Alagoa da Barra,para concluir na estrada da Salsa.
Tal doação e as diversas cláusulas,que, para a sua efetividade,foram concumitantemente impostas pelos outorgantes,contando-se,entre elas, a de alevantarem os benefíciários uma cêrca de pedras,barro e cal sôbre o citado trilho aceitaram-na a Câmara e o Ouvidor, com parecer favorável do licenciado João Batista da Lapa, advogado da Correção e Curador "ad-hoc" do referido José Joaquim de Sousa,que,ainda no mesmo ano,exatamente oito mêses mais tarde(na manhã do dia dez de outubro),tendo apenas 18 anos de idade recebeu em matrimônio,na Matriz da Paróquia e em presença do Pe.Coadjutor Antônio Correia de Figueiredo,a santamarense Isabel Maria de Oliveira,filha do casal:Alferes Manoel Teles de Oliveia -Vitória Perpétua do Bomfim. Dêsse casamento,nasceram-lhe duas filhas,a primogênita das quais Maria Rosa do Sacramento,sua legítima sucessora,já após investida na posse do Encapelado,teve os seus direitos à mesma judicialmente reconhecidos em demanda sustentada contra as pretenções do seu primo de asscendência ilegítima,José Alexandre de Abreu e Lima.
Essa Maria Rosa do Sacramento casou-se muito nova com João Leal dos Reis e Melo,a quem sobreviveu e foi a derradeira administradora do Vínculo,pois,em obediência a Lei n.58,de outrubro de 1835 extingui-se êste,por ocasião de sua morte,sendo suas terras avaliadas em doze contos de réis,mediante a escritura lavrada em 3 de fevereiro de 1863,servindo de testemunhas o Vigário João Ferreira da Silva e Melo e o dr.Tomaz Diogo Leopoldo,amigavelmente partilhadas entre seus dois filhos,Francisco Leal dos Reis e Melo,que ficou com as do Poente, e Ana Gracinda de São José Chaves, a quem couberam as do Nascente,correndo a linha divisória da beira do rio ao sobrado da finada Ana de Barros Leite,pelo oitão dêste e o bêco da Cadeia até à esquina desta,daí,rua acima,à capela da Santa Cruz,desta, em linha reta, à estrada do Carrapicho,logo nos seus fundos,por essa estrada até a da Cotinguiba e,finalmente por esta, até encontrar os limites do Curral-falso.
Encerremos,porém,esta sucinta digressão e voltemos aos atos consequentes à instalação da Vila,cuja remembrança constitúe aqui nosso primordia objetivo.
- Uma semana após à recepção do Capitão Luiz Felix e do seu filho José Joaquim, o Dr.Magalhães de Paços deferiu o procurador do Conselho, José Antônio Cabral o compromisso indispensável à entrada do exercício de suas funções.e,transcorridos mais de nove dias,ou seja,a 26 de fevereiro,sempre no mesmo local das anteriores(a casa de sua aposentadoria),reunindo em especial audiência Os vereadores da nova Vila e o seu dito Procurador, decidiu em definitivo e de plena harmonia com as propostas por eles apresentadas,que,de então por diante,passassem a ser cobrados e recebidos pela Câmara de Propriá não só todos os direitos fiscais incidentes sôbre os bens situados em seu território e as transações nesta efetuadas,como as próprias rendas das tapagens de peixe erguidas em seus riachos,muito embora já postas oportunamente em arrematação pela Câmara de Vila Nova, a qual, todavia,determinou êle se continuasse a recolher o pagamento anual do donativo voluntário oferecido a S.A. para o palácio da ajuda,afim de que remetesse ela o seu produto à Cabeça da Comarca(São Cristóvão).
Também nessa mesma audiência e com o beneplácito geral,ordenou ainda o Doutor Ouvidor e Corregedor que imediatamente,fossem avocados de Vila Nova e conclusos aos juízes Ordinários ou ao de Órfãos do novo Têrmo,para que,no âmbito de suas respectivas alçadas,presidissem êles à sua marcha processual,aos autos de tôdas as causas alí instauradas e pendentes de julgamento,de julgamento,desde que,no caso de inventário,pertencessem os bens ao espólio de moradores do território desmembrado, ou neste tivessem os réus seus domicilios,em se tratando de outros feitos,de natureza civil ou de natureza criminal.
Essa evocação se fez sem pêrda de tempo,consoante se depreende da certidão infra transcrita,exarada logo ao pe do têrmo da audiência em que fôra ordenada:" Certifico q. hoje 26 de Fevro. de 1802 pacei mando. pa. o dito Juiz Ordnro. e de Orphans remeteram de V.Nova todos os proceços. civeis, cres.,Devacas, ex off. a respto. de ptes. querellas pertencentes ao tro. desta Va. do Propriá e pa. se remeter os inventros. e procefsos em que os Menores e Tutores fores Reos tudo na fra. determinada neste Jo. e entreguei ao Escrm. da Prova. Anto.Bernardo da Rocha para executar e eu Dos. Glz. Morim Escrm. q. o escrevi.
Daí a quarenta e oito horas,cumprindo aliás, o que anunciará na audiência da declaração dos limites do novo Têrmo(9 de fevereiro),o Snr. Ouvidor e Corregedor Magalhães de Paços,acompanhado dos funcionários competentes, empreendeu a averiguação" in-loco" desses limites, no tocante a Vila Nova e Santo Amaro, percorrendo-os em um só dia, mas em três etapas.
Na Primeira foram inspecionadas as divisas com Vila Nova até a passagem do Japaratuba-mirim, adiante da fazenda da Ilha,de que era dono João de Aguiar Boto. Na segunda se fez a vistoria do restante dessas divisas e parte das com Santo Amaro, até o local onde o porteiro da corrição fincou um marco. Na terceira extendeu-se a inspeção desde êsse marco até confins das fronteiras de Propriá com Santo Amaro,no Japaratuba-grande.
Para cada uma dessas etapas, levou o mesmo escrivão de todos os demais atos,Domingos Gonçalves Morim,uma ata distinta,descrevendo os limites verificados e consignando a tomada de posse do território do novo Têrmo, em nome de sua Câmara,pelo procurador desta, José Antônio Cabral.
A segunda de tais atas foi subscritas pelo Dr.Magalhães de Paços o dito procurador do Conselho,O escrivão da Câmara,João José da Costa Corré e Silva e o capitão Manoel de Matos;terceira,pelos mesmos senhores e o Meirinho Geral,José Lima de Araújo;a primeira por todos estes e mais o porteiro da Correição- João de Souza, e os cidadãos Nicolau Roiz e Estevão Correia de Sá,cujo nome,no texto do próprio documento,escrito em sua casa de residência,figura como sendo Estevão Correia Dantas.
Esta diligência trímera coroou as solenidades da instalação da Vila de Propriá e seu têrmo, a qual,aí encetando sua vida autônoma de Município,dentro em breve(1808) ultrapassava demograficamente a própria Vila-Nova e tanto se desenvolvêra,que mereceu do então vigário do Sirirí e, posteriormente,bispo do Grão Pará, d. Marcos Antônio de Sousa, a ridente profecia de futura princesa da região.Vaticínio que, felizmente,para mui justo e cívico orgulho nosso,os tempos não desmentiram.
Tornando-se,sob o governo do fundador de Aracaju,dr.Inácio Joaquim Barbosa, em 8 de maio de 1854,pela resolução Provincial n.379,séde da comarca de Vila Nova e, em 20 de fevereiro de 1857,através da Resoluçãon.461,quando presidia a Provincia o dr. Salvador Correia de Sá e Benevides quando dando seu nome à mesma circunscrição judiciária, a antiga povoação de Santo Antônio do Urubú de Baixo ,por força da Resolução n.755,de 21 de fevereiro de 18766,alçou-se à categoria de cidade, e, continuando sempre em marcha avante na senda do progresso, situar-se, hodiernamente,na vanguarda de suas irmãs sergipenses, graças às conquistas logradas nos múltiplos setores da vida urbano-social, ao seu alevantado gráu de prosperidade, cuja relevância a angustura de espaço e os limitados propósitos desta crônica não nos permite demonstrar com minudências,o que possivelmente será feito através da "História de Propriá",obra de interêsse para a nossa mocidade estudiosa, e que se acha em compilação para em tempo oportuno ser publicada, porem, bem se entrevê nos versos adiante estampados,fragmento de modesto poema, dedilhado em louvor à terra berço, por um filho de sóbria inspiração,mas exaltado no amor que lhe tributa, poema declamado quando se realizava a solenidade da pedra fundamental do obelisco que constitúe um marco das comemorações citadinas na passagem de sua goriosa data sesquicentenária:
"Propriá prgressista, que, ativo se expande
Em todos os ramos do humano trabalho:
Que o centro se fez de uma zona mui grande,
No baleão, no arado, na pena e no malho;
Propriá comerciante, banqueiro,fabril,
Que fecha contratos de gêneros mil,
Nas feiras, nas lojas e até nos "cafés"!
E onde, indicando dos ventos o rumo,
Das aves da Indústria as asas de fumo
No tôpo se agitam de des chaminés..."
Propriá, Fevereiro 1952
********************************************************************
É com um grande Privilégio que eu, Telmo Carlos de Oliveira, Professor e Poeta, copilei estes trechos da vasta história da cidade de Propriá, cidade que adotei como meu lugar .
Esse objetivo surgiu quando precisei de dados dessa cidade em minhas aulas e não encontrei fontes para realizar meu trabalho nem em bibliotecas da cidade nem na internet, então caí em campo e começei a passar apara o mundo virtual o pouco que resta da história escrita deste lindo lugar de Sergipe. E agradeço ao Professor Erasmo Rodrigues Teixeira pois o mesmo me repassou seu material para que eu pudesse realizar esse meu humilde trabalho.
O texto está recopilado da mesma forma como na cópia a mim repassada e procurei ser fiel exatamente a tudo o que vi no escrito.
Esses foram os fundamentos históricos de Propriá mas ainda terão outros dados os quais colocarei em outras postagens.